domingo, 22 de junho de 2008

Viagem ao Sertão da Farinha Podre



A trilha da Mogiana – Parte 1

Saímos cedo na manhã de sábado
, nosso pequeno grupo composto por Ulisses Monteiro (publicitário), Erwin Rommel (estudante de Geografia da UFU, o Alemão) e eu. Nosso destino: a antiga ponte da estrada de ferro da Mogiana sobre o Rio Araguari, na divisa dos municípios de Araguari e Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Era mês de junho e o dia se mostrava agradável, no ar uma brisa suave, mesmo com o forte sol da estação seca.
No início da caminhada já pegamos o trecho no local em que a nova linha férrea se estendia sobre o leito da antiga Mogiana no sentido Uberlândia-Araguarí. A Estrada de Ferro era administrada pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, que mais tarde passou a chamar-se Ferrovia Paulista S/A – FEPASA e entrou em operação, no seu extremo norte, com a inauguração da Estação Uberabinha, no dia 21 de dezembro de 1895 e cruzou por boas décadas os municípios de Araguari, Araxá, Uberaba e Uberlândia (desde a Estação Irara – Divisa com Uberaba até a estação Sobradinho – na divisa com Araguari – trecho onde pensávamos encontrar a antiga ponte).
Segundo informações obtidas com funcionários da FEPASA, encontraríamos sinais do antigo leito nas imediações do armazém da Cibrazem, onde na verdade começava a nossa aventura, e ainda estávamos em área do Distrito Industrial de Uberlândia. Não dispúnhamos de mapas com o traçado da Mogiana, e por isso teríamos que encontrar seu leito em locais aonde a vegetação já tinha tomado conta da paisagem, o que foi confirmado após 40 minutos perdidos na busca de sinais da estrada, enganados que fomos pelo pasto de braquiarias, pela sinuosidade dos trilhos entre a vegetação de cerrado limpo e pelas lavouras de milho doce e hortaliças.
Viemos a descobrir o verdadeiro leito da Mogiana sob uma estrada de terra, onde a presença constante de pedras britadas, do tipo utilizada em ferrovias, denunciava nossa descoberta. A presença de alguns restos de dormentes à beira da estrada confirmou nossa suspeita: tínhamos encontrado o caminho da Mogiana! A beleza do lugar era de impressionar, não apenas nos aspectos cênicos, mas também pela biodiversidade que se manifestava no canto e vôo de anús brancos, quero-queros, curicacas e siriemas, dentre uma boa dezena de pequenos passarinhos; na magia das cores das flores dos ipês roxos e dos imbiriçús; na infinidade de pequenos cursos d’água e seus micro-ecossistemas e nos sinais que nos indicavam uma fauna variada.
A marca da exploração agro-pastoril nos acompanhava por todo o trajeto; eram poucas e pequenas as reservas ambientais encontradas. Todos os córregos que cruzam o leito da estrada encontram-se canalizados no local e sustentados por encostas muito bem construídas. Ao encontrarmos o Córrego Sobradinho a paisagem se tornou ainda mais bela, pois a partir daí, a estrada seguia o vale do córrego, que em seu contorno e aprofundamento nos levava a uma área de vegetação nativa mais fechada, uma típica mata galeria de cerrado. Sabíamos que o córrego nos levaria ao Rio Araguari e seria uma opção de caminho se a vegetação se tornasse intransponível, como nos parecia o local onde chegamos após 4 horas de caminhada, que nos obrigou a largar o leito da estrada e seguir pelo campo cerrado, com os espinhos das malícias a nos atormentar e arranhar. À medida que a trilha foi se fechando, pegamos um desvio buscando um local alto de onde pudéssemos avistar referências do caminho, o que conseguimos após uma boa hora de caminhada pelo carrasco. Avistamos uma sede, que após alcançá-la soubemos ser a Fazenda Sobradinho, aonde paramos para descansar. Procuramos a 1ª cachoeira do Córrego Sobradinho, aonde armamos nossas barracas.
Distância aproximada de nossa caminhada: 12 km.
Tempo gasto no percurso: 9 horas e 40 minutos.

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