domingo, 29 de junho de 2008

Eu escoteiro. 1969/1971



É amigo, me lembro de meus dias de menino em Conquista, como dias cinzas, dias em que o colorido das flores se destacava no céu azul e os campos entre as serras se perdiam de vista nos belos fins de tarde. Conheci a Serra do Periperi quando me tornei escoteiro em 1969, rastreei trilhas e tesouros entre seus mananciais, que anos depois vim saber se tratar do Rio Verruga. Me lembro da gabiraba e do veludo, abundantes nas encostas da Serra. Colerinhas, custipios e bicos-de-lacre enchiam de alegre cantoria nossas manhãs de campistas, nos preparando para os desafios dos jogos escoteiros que praticávamos. Minha patrulha era a Raposa, escolhida por representar um animal sábio e que já parodiávamos numa canção do seriado televisivo Daniel Boone: “... vamos, vamos, vamos lutar, pela nossa terra batalhar, vamos, vamos, temos que vencer, com a Raposa não há o que temer ...”. Nossa patrulha iniciou-se meio desacreditada, principalmente por ser formada por um grupo de novatos, mas com o passar dos dias fomos nos destacando pela “dedicação e pelo senso de organização e planejamento de nossas aventuras” (palavras de um dos membros da Patrulha Raposa, Fábio Bittencourt, que encontrei em 2003). Várias atividades desenvolvemos, como trabalhar na organização dos Desfiles de 7 de setembro e procissões, no apoio ao atendimento no ambulatório do Hospital São Vicente e na divulgação de nosso grupo escoteiro, que nos levou a viajar às cidades de Tremedal e Iguaí para ajudarmos a criação dos grupos dessas cidades. A viagem á Tremedal foi memorável, da hora marcada pela Prefeitura que nos enviaria um carro para o deslocamento ao atraso, estava marcada para 8:00 horas da manhã, que da ansiedade de garotos transformou-se em uma desistência, o que nos levou a tomar a inusitada decisão de ir de carona (uma distância de aproximadamente 60 km, pela antiga estrada do Panela) pois havíamos assumido um compromisso com os garotos daquela cidade e de qualquer maneira chegaríamos. Logo após nossa partida para um local aonde pudéssemos pegar carona, o carro da prefeitura chegou e não nos encontrando tomou o caminho de volta e nos encontrou próximo a cidade de Belo Campo depois de pegarmos carona na carroceria de um caminhão e de uma Kombi. Nossa chegada à cidade foi um feito, pois já se espalhava a notícia que um bando de garotos escoteiros tinha vindo a pé de Vitória da Conquista até Tremedal. Esse feito foi o suficiente para projetar nossa patrulha e seus membros como verdadeiros escoteiros, que não pestanejaram para cumprir um compromisso assumido.
Ser escoteiro talvez tenha sido uma das coisas mais acertadas que fiz, pois os ensinamentos que tive me ajudaram muito e me ajudam até hoje nas mais diversas atividades que desenvolvo.

domingo, 22 de junho de 2008

Viagem ao Sertão da Farinha Podre



A trilha da Mogiana – Parte 1

Saímos cedo na manhã de sábado
, nosso pequeno grupo composto por Ulisses Monteiro (publicitário), Erwin Rommel (estudante de Geografia da UFU, o Alemão) e eu. Nosso destino: a antiga ponte da estrada de ferro da Mogiana sobre o Rio Araguari, na divisa dos municípios de Araguari e Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Era mês de junho e o dia se mostrava agradável, no ar uma brisa suave, mesmo com o forte sol da estação seca.
No início da caminhada já pegamos o trecho no local em que a nova linha férrea se estendia sobre o leito da antiga Mogiana no sentido Uberlândia-Araguarí. A Estrada de Ferro era administrada pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação, que mais tarde passou a chamar-se Ferrovia Paulista S/A – FEPASA e entrou em operação, no seu extremo norte, com a inauguração da Estação Uberabinha, no dia 21 de dezembro de 1895 e cruzou por boas décadas os municípios de Araguari, Araxá, Uberaba e Uberlândia (desde a Estação Irara – Divisa com Uberaba até a estação Sobradinho – na divisa com Araguari – trecho onde pensávamos encontrar a antiga ponte).
Segundo informações obtidas com funcionários da FEPASA, encontraríamos sinais do antigo leito nas imediações do armazém da Cibrazem, onde na verdade começava a nossa aventura, e ainda estávamos em área do Distrito Industrial de Uberlândia. Não dispúnhamos de mapas com o traçado da Mogiana, e por isso teríamos que encontrar seu leito em locais aonde a vegetação já tinha tomado conta da paisagem, o que foi confirmado após 40 minutos perdidos na busca de sinais da estrada, enganados que fomos pelo pasto de braquiarias, pela sinuosidade dos trilhos entre a vegetação de cerrado limpo e pelas lavouras de milho doce e hortaliças.
Viemos a descobrir o verdadeiro leito da Mogiana sob uma estrada de terra, onde a presença constante de pedras britadas, do tipo utilizada em ferrovias, denunciava nossa descoberta. A presença de alguns restos de dormentes à beira da estrada confirmou nossa suspeita: tínhamos encontrado o caminho da Mogiana! A beleza do lugar era de impressionar, não apenas nos aspectos cênicos, mas também pela biodiversidade que se manifestava no canto e vôo de anús brancos, quero-queros, curicacas e siriemas, dentre uma boa dezena de pequenos passarinhos; na magia das cores das flores dos ipês roxos e dos imbiriçús; na infinidade de pequenos cursos d’água e seus micro-ecossistemas e nos sinais que nos indicavam uma fauna variada.
A marca da exploração agro-pastoril nos acompanhava por todo o trajeto; eram poucas e pequenas as reservas ambientais encontradas. Todos os córregos que cruzam o leito da estrada encontram-se canalizados no local e sustentados por encostas muito bem construídas. Ao encontrarmos o Córrego Sobradinho a paisagem se tornou ainda mais bela, pois a partir daí, a estrada seguia o vale do córrego, que em seu contorno e aprofundamento nos levava a uma área de vegetação nativa mais fechada, uma típica mata galeria de cerrado. Sabíamos que o córrego nos levaria ao Rio Araguari e seria uma opção de caminho se a vegetação se tornasse intransponível, como nos parecia o local onde chegamos após 4 horas de caminhada, que nos obrigou a largar o leito da estrada e seguir pelo campo cerrado, com os espinhos das malícias a nos atormentar e arranhar. À medida que a trilha foi se fechando, pegamos um desvio buscando um local alto de onde pudéssemos avistar referências do caminho, o que conseguimos após uma boa hora de caminhada pelo carrasco. Avistamos uma sede, que após alcançá-la soubemos ser a Fazenda Sobradinho, aonde paramos para descansar. Procuramos a 1ª cachoeira do Córrego Sobradinho, aonde armamos nossas barracas.
Distância aproximada de nossa caminhada: 12 km.
Tempo gasto no percurso: 9 horas e 40 minutos.

Minhas Ações - Formação de Jardineiros

Oficina Boracéa. Curso de Jardinagem e Horticultura com moradores de rua de São Paulo. 2003

Flores do Brasil


quarta-feira, 11 de junho de 2008

Diário de Viagem - Na terra da garoa



Da Parada Inglesa ao Jardim São Luís ...


Dando seqüência a minha senda de educador popular na Grande São Paulo, após ganharmos o TOP ECOLOGIA com o Centro de Habilitação PROMOVE, fui convidado pelo SENAC/SP para desenvolver um projeto de formação profissional de jardineiro - qualificação básica, o que aceitei com prontidão. Me dediquei a elaborar um projeto de formação voltado para diversos perfis de público em situação de exclusão, mas que tivesse uma relação muito grande entre sí; a formação deveria ser participativa, construtivista e focada na realidade das comunidades aonde o projeto fosse aplicado, e com um bom conteúdo técnico. O projeto do curso ficou pronto em maio de 1999 e o primeiro teste foi realizado em parceria com a Casa de Cultura e Educação São Luís - CCESL, dedicado a um grupo de 50 alunos (em dois turnos) em situação de risco social, jovens e adultos moradores da regão (Jardim São Luíz, Campo Limpo, Jardim Ângela, Capão Redondo e outras localidades da Zona Sul). Aos conteúdos desenvolvendo as habilidades básicas, específicas e de gestão juntamos as práticas e vivências da experiência do jardineiro através da empresa experimental de criação e manutenção de jardins, que tinha como método a criação e implantação de um jardim e/ou praça, no caso, criamos um jardim para a casa de cultura. A duração do curso era de aproximadamente 3,5 meses, com uma carga horária de 240 horas, que depois viria ser modificada para 180 horas.

No Jardim São Luíz ainda realizamos mais duas temporadas do curso de jardineiro (na Casa de Cultura e na Fundação Julita) formando um total de 136 jardineiros.

Nesse mesmo tempo iniciei uma jornada de Professor de Fruticultura e Piscicultura na Escola Luís Antônio Machado - ELAM, escola que formava Técnicos em Agropecuária desde 1972, localizada a trezentos metros da Av. Paulista, em pleno Bairro dos Jardins, aonde me adaptei muito bem e em pouco tempo me tornei Coordenador do Curso Técnico em Agropecuária. Foi a partir dessa nova jornada que a minha vida em Sampa começou a ficar corrida como a vida de todo bom paulistano, já estava trabalhando para o SENAC de segunda à sexta diuturnamente e agora começava a trabalhar à noite e aos sábados na ELAM.

sábado, 7 de junho de 2008

Viagem ao Sertão da Ressaca. Imperial Vila da Conquista

Cabeça de Frade. Melocactus conoideus, espécie endêmica da Serra do Periperi. 2006

Manual do Jardineiro


A Relação
O primeiro passo para a formação de um jardineiro é a descoberta do mundo mágico das plantas e o conhecimento de suas características, hábitos e particularidades que abrem um novo mundo à frente do futuro jardineiro.
O conhecimento das relações que ocorrem na jardinagem entre plantas, solo, ar, água, luz, vento, seres vivos e outros fatores será o ponto de partida para o entendimento desse fantástico mundo. A relação mais se aprofunda, a medida que se conhecem as características das plantas, suas propriedades e particularidades e se entende que cada espécie tem suas preferências, hábitos e tratos específicos. È muito importante que o candidato a jardineiro entenda que cada planta é um ser único; encontramos indivíduos da mesma espécie com necessidades diversas; desde condições ambientais até as formas de manutenção e tratos, isso sem contar que existem uma infinidade de espécies que possuem subespécies, variedades, cultivares e outras formas de classificação desses indivíduos ou grupos. Se em algumas espécies bem conhecidas do homem já é difícil tratar da saúde e da alimentação, imagine conhecer as necessidades e desejos de indivíduos que não se comunicam de forma clara, então torna-se mais complexa a relação com os vegetais, que são algumas centenas de milhares de espécies cultivadas, sendo cada uma exigente por condições especiais: tomemos como exemplo a família orquidáceae com milhares de espécies que se distribuem por praticamente todo o planeta Terra em ambientes extremamente diversificados, o que indica uma infinidade de tratos diferentes para a manutenção de suas condições vegetativas.
O jardineiro necessita desenvolver o seu modo de se relacionar com as plantas, que deve ser baseado nas informações que conseguiu pesquisar sobre sua botânica, o modo de cultivo, características de preferências ambientais e formas de multiplicação.
Esse manual se propõe a ser um instrumento não apenas de consulta para o jardineiro, mas um local de registro e confrontação de experiências e vivências observadas e praticadas, referência para o trabalho e orientação para a construção das competências necessárias à formação profissional do jardineiro.

Educação Ambiental - Minhas Criações

SENAC / CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA PARA O TRABALHO

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE – PEAC

SEMINÁRIO TRILHA ECOLÓGICA

LOCAL: Bacia dos Rios Capivari – Monos – Bairro da Barragem e Engenheiro Marcilac / Parelheiros – São Paulo / SP

DATA: 10 de setembro de 1.999

PÚBLICO: Professores, agentes educacionais e estudantes das escolas participantes do Programa de Educação Ambiental na Comunidade – PEAC / SENAC.

PERCURSO: Aproximadamente 6 Km de caminhada.

OBJETIVO: Formar monitores para o desenvolvimento, organização e condução de grupos em caminhadas ecológicas, prestando informações sobre atrativos e curiosidades do roteiro, e orientando sobre a forma de procedimento no percurso.

METODOLOGIA:
A elaboração de roteiro para visitação e a condução de grupos não é tarefa simples, para tanto o organizador da atividade deve estar preparado para os vários aspectos que envolvem esta prática, portanto, visando a organização e planejamento da atividade, dividiremos o programa em três partes distintas:
Parte I – ELABORAÇÃO DE ROTEIRO
Essencial para o sucesso do evento, uma boa programação do roteiro relacionada aos objetivos comuns almejados pelo grupo de visitação, deverá conter atributos de real valor envolvendo os participantes com informações relativas aos aspectos históricos, geográficos, culturais e sociais:
Ø Estabelecimento de pontos de interesse à visitação;
Ø Determinação do universo de informações relacionadas aos locais visitados.
Parte II – TÉCNICAS DE CAMINHADA E EXCURSIONISMO
Necessárias a um bom desempenho no acompanhamento de grupos por roteiros de cunho ecológico, facilitando o deslocamento e promovendo atividades de descanso e preparação para a caminhada:
Ø Organização da fila;
Ø Ritmo, passadas, postura e apoios;
Ø Período de descanso – freqüência e duração;
Ø Travessia de rios – métodos e escolha do trecho;
Ø Alimentação – nutrição adequada, planejamento de cardápio, acondicionamento e transporte;
Ø Equipamentos – vestuário, mochilas, cantis, lanternas, lâminas e etc.
Parte III – ECOLOGIA E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Muito importante para a visitação é o procedimento e postura do grupo em relação ao meio ambiente, além dos aspectos de observação e estudo:
Ø Estabelecimento da capacidade de carga do local visitado;
Ø Detalhamento prévio de informações sobre o ambiente a ser visitado;
Ø Observação dos aspectos geomorfológicos do ecossistema – flora, fauna, topografia, rios / córregos, solo, etc.

PROGRAMA / ROTEIRO
7:30 Hs – Saída da Casa de Cultura e Educação São Luís – CCESL – Avenida Hum, 30 Jardim São Luís.
9:00 Hs - Chegada ao Bairro da Barragem (início da trilha).
12:00 Hs – Parada para almoço
14:00 Hs - Reunião e Avaliação do evento
16:00 Hs - Retorno

APOIO
Associação OLHOS DA MATA – Condução do grupo na trilha

ORGANIZAÇÃOSENAC / CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA PARA O TRABALHO

Farmácia Viva - Universo das Ervas Curativas


É de conhecimento do homem contemporâneo, com registros que datam de longo tempo, a utilização das ervas como terapia curativa aos males que acometem a vida dos seres humanos e de seus companheiros animais domesticados.
Com o advento da medicina moderna e da cura alopática, através da descoberta do princípio ativo das substâncias químicas existentes nos vegetais e sua elaboração sintética em laboratórios, cada vez mais se foi deixando de lado a utilização de ervas na cura e prevenção de um sem fim de males.
A propaganda desse segmento industrial foi e ainda é uma das mais fortes e politicamente protegida por interesses comerciais. Estes mesmos interesses geraram o desenvolvimento de ações, que vieram durante os anos, minando a segurança na utilização natural das ervas (muitas vezes as mesmas das quais se extraem drogas curativas para determinadas doenças em que se divulgava que as únicas formas de cura eram através do uso da droga sintética). Essa enorme gama de ações visando o desenvolvimento da indústria farmacêutica pode ter sido responsável também por passar informações tendenciosas e a criação de hábitos nas comunidades dominadas, que davam pouco ou nenhum crédito ao conhecimento adquirido por milênios, do poder curativo natural das ervas, da mesma forma que, paralelamente se desenvolvia a indústria da agricultura de subsídios também chamada de agricultura capitalista, que forçava a utilização de um sem fim de insumos à produção agrícola (adubos químicos, corretivos químicos da acidez do solo, venenos para combater formigas e vários outros insetos, dentre outros) como se antes dessas descobertas não existisse agricultura e produção, da mesma forma como se antes das drogas sintéticas, não existisse medicina curativa.Esse estudo não tem a pretensão de difundir a cura pelo natural como a única forma verdadeira e correta de medicina; não pretendemos negar os avanços tecnológicos que a medicina conhece através do uso de drogas sintéticas e da utilização de recursos como o laser, dos diagnósticos de precisão com ultrasom e outros avanços; mas, sobretudo, pretendemos resgatar o conhecimento popular e milenar da utilização das ervas naturais na cura e prevenção de um sem fim de males, questionando a forma com que o segmento comercial da produção farmacêutica difunde seus produtos, o que no nosso entender contribui para um dos grandes males econômicos da atualidade; tomemos como exemplo a utilização de um ungüento à base de mentol e cânfora, dois produtos de laboratórios diferentes: A e B -ub, ambos custando em meados de 2002 à venda nas drogarias cerca de dois dólares a embalagem de 12 g., o mesmo ungüento produzido em uma farmácia caseira não custaria mais que 18 centavos de dólar. Portanto, esse estudo pretende além de difundir o conhecimento das ervas e as formas de utilização correta, como a manipulação de pomadas e xaropes, ressaltar a importância da utilização, os perigos da automedicação e os cuidados com as interações entre as ervas, muitas vezes extremamente danosas à saúde.
Foto: WEB

domingo, 1 de junho de 2008

Viagem à Terra da Garoa. Início de minha jornada de Educador Popular

Cheguei em São Paulo em maio de 1998, vindo do Triângulo Mineiro, na rota de contra mão das "Curvas do Rio" de Elomar Figueira. Sem a família que já era grande (Ana, Lua e Amora), e cuja ausência me deixava muito nostálgico e que junto com o frio aumentava ainda mais minha sensação de solidão, o que me fazia chorar muito pelas ruas, quando caminhava. E foram muitas e longas caminhadas, primeiro porque não tinha dinheiro para o ônibus ou metrô (que era ainda mais caro) e porisso andava a pé. No pé um bom companheiro, uma botina estradeiro da kildare com solado de pneu de caminhão que me levou por quatro meses todos os dias da semana ao INSS do Belenzinho, da Alameda Campinas (na região da Paulista) até a Ponte da Vila Maria (na marginal Tietê) - não podia dispensar recursos para o transporte pois meu salário era muito baixo e mal dava para as despesas da família que ficara. O trabalho, um desafio. Instrutor de jardinagem para tres públicos bem especiais: pessoas que estavam sob condições de acidente de trabalho e precisavam aprender um novo ofício, portadores de deficiências e soropositivos. Até então minha relação com público tinha sido de servidor público federal, Estadual e Municipal(IBGE, CEPA/RO e Prefeitura de Uberlândia) sempre relacionado a atividades da Agronomia e do Meio Ambiente. Logo percebí que meu novo universo era completamente diferente. Meu público era realmente ESPECIAL, eram histórias de vida que se apresentavam para mim com muita força. Eram pessoas extremamente sensibilizadas pelo desenrolar de suas vidas, suas frustações, suas ansiedades e suas carências. Não sei bem como, mas a medida que fomos desenvolvendo o trabalho com essas pessoas (nessa pequena equipe éramos um agrônomo, uma professora primária - Ivonete e uma psicóloga - Eliane. As duas participavam também do curso de panificação, com a Instrutora D. Edna) percebemos que de fato poderíamos fazer alguma diferença para o resto das nossas e das vidas delas. A dedicação e o entusiamo com que nossos alunos participaram dessa formação se traduziu ao final do curso em um prêmio nacional: TOP Ecologia 1998 da ADVMB, pelo Projeto Jardins da parceria entre as instituições que eram mantenedoras do projeto, o Centro de Habilitação Promove e Unibanco Ecologia. Para mim dessa experiência ficou pro resto de meus dias as lembranças fortes dos meus alunos se ajudando a construírem um belo jardim no CAT do Belenzinho: da limpeza do terreno, da seneadura do gramado e das floríferas que enfeitaram os canteiros, da cerca feita com caixotes de uva, da área de circulação feita com restos de construção, da pracinha dentro do jardim com a mesa de carretel de madeira de cabos elétricos, do lago, da casa de passarinhos e do incrível canteiro de girassóis que encheu de cor e alegria nossos olhos, minha vida e aquele local cinza, pequenas obras erguidas por esses guerreiros excluídos: seu Manoel Messias, seu José Argolo, seu Tadeu, D. Vitória, Luís Fernando e Luís Fernando, Anderson, Juliano, Patrícia e Solange e outros trinta e poucos participantes nos turnos da manhã e da tarde. Ao final do curso um pequeno grupo resolveu formar uma associação de produtores de plantas ornamentais e eu fui convidado a expandir o Projeto nos circos-escola da Vila Remo (zona oeste) e da Vila Penteado (zona norte). Nesses locais trabalhando agora com jovens em situação de risco social, sendo então o início de minhas experiências nas periferias da Grande São Paulo.