sábado, 17 de maio de 2008

Diário de Viagem - A 1ª Jornada: 1959/1965

Pelo que me lembro, comecei a ver o mundo pela janela de um carro ...As imagens que trago dos meus primeiros anos são de paisagens em Campina Grande, aonde nascí, da Catedral, do Açude Velho e da Rua Vila Nova da Rainha, que aos sábados era envolvida pela feira livre e de onde, das grades de um jardim de uma residência de classe média, fazia os meus primeiros contatos com passantes e feirantes e era recriminado pelos mais velhos, principalmente as crianças. Aquele jardim aonde brincava com velocípede e no gramado, me parecia uma imensidão, pois me fazia sentir um ser livre e íntimamente ligado à natureza das coisas e das pessoas. Terceiro de cinco filhos fui aprendendo a me virar sozinho, pois meu irmão mais velho e também meu ídolo era muito independente e não saía com os mais novos - eu e alguns primos de minha idade. Quando fui para a escola (Colégio das Irmãs Lurdinas) o que mais me atraiu foi o cheiro do material escolar: livros, lápis, cadernos e até o das borrachas, que na época não eram perfumadas como as de hoje. A escola era um paraíso, com imensos e altos corredores e portais, no alto de um morro de onde se avistava grande parte da cidade, era rodeada e entremeada de árvores e aonde pela primeira vez tive contato visual com um animal silvestre: um camaleão, que me deixou fascinado de medo e admiração, cheguei a sonhar várias vezes com esse bicho.
Um fato ocorreu na fanília quando tinha cinco anos que me marcou muito e que desencandeou em mim o senso de justiça, que foi o assassinato de meu Tio Bastos por jagunços de um "coronel" pelo domínio de terras na região do cariri da Paraíba, fato político comum naquela época. Fiquei revoltado em saber que quem tinha cometido essa nefasta ação estava a pouca distância de nós e escondido sob a proteção de um poderoso grileiro de terras. Fiquei durante um bom tempo aguardando que o meu grande herói (corredor de vaquejadas e proprietário de um Jipe Willis), Tio Manuel, resolvesse a parada. Até que essa espera foi-se aos poucos e retornei para meu mundinho.
Outro fato marcante em minha vidinha foi quando me perdí na Praia de Poços em João Pessoa quando veraneávamos em 1962. Ao sair escondido atrás de minha irmã mais velha e primas da mesma idade, me perdí na areia branca da praia e ao ficar chorando fui recolhido por um casal que me levou a uma casa muito grande e de onde um senhor grisalho me recebeu dizendo que eu era seu filho que tinha voltado para casa, aquilo também me apavorou e me lembro a dizer que meu pai se chamava José e que ele tinha um Simca. Horas depois meu pai veio me buscar nessa casa, depois de ter me procurado pelos "poços" de toda praia.
Me lembro também do Armazém de meu pai e do meu avô, comerciantes natos que encaminhavam todos os filhos para conhecerem e vivenciarem o mundo dos negócios, mas sempre me sentí apavorado com aquela relação entre aqueles homens.
O brilho das luzes do amanhecer nos paralelepípedos das ruas foram as imagens que levei quando me mudei pela primeira vez, em 1965, com destino a cidade do Recife. Partimos em um veículo Simca ao amanhecer do dia e essa "odisséia" que para mim durou uma eternidade, pois me encontrava extremamente ansioso pela mudança ...

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